24 de outubro de 2008

estado crônico: mil cidades perdidas

Há exatos vinte e quatro anos, eu era trazido para essa cidade. Ainda sem escolha, sem opinião, uma criança meio perdida, que não entendia o porquê da mudança: foram trágicas questões, mas sobrevivemos e viemos para cá.

Chegando aqui, passei apenas dezessete desses vinte e quatro anos morando na mesma casa. Mesma vizinhança, amigos vindo e indo e eu continuava ali. Futebol na rua, primeiras bebedeiras, primeiros shows, aprovação no vestibular, primeira banda e primeiros shows com ela. Tudo acontecia naquele mundo, até que me mudei uma vez e não parei mais. Se passei dezessete anos na mesma casa, nos outros sete devo ter me mudado umas dez vezes ou mais.

Meu mundo mudou. Não mais a rua, o bairro... alguns amigos continuam os mesmos, mas meu mundo tornou-se essa cidade que me acolheu há vinte e quatro anos. As brincadeiras pelas ruas do bairro, agora são pelas da cidade toda, às vezes por outras cidades. Em poucos casos, até interestaduais...

E aqui estou eu, vinte e quatro anos depois de ter pisado nessa cidade pela primeira vez, escrevendo sobre como é duro ver tudo isso passar. A casa da infância-adolescência deixou de ser minha essa semana e com isso se foi a esperança de um dia morar lá de novo, ter filhos correndo pelas mesmas ruas, brincando das mesmas coisas. Concordo que o bairro mudou, as ruas não parecem mais tão seguras, mas acho que no fim das contas, eu que mudei, pois entre essa “síndrome do pânico” não declarada e os sentimentos que essa cidade multifacetada desperta em mim, eu só sinto vontade de nunca mais pisar nela de novo.

Moram estrangeiros demais aqui...

Fodam-se os bairristas, mas aqui nunca foi o meu lugar...


Da série "estado crônico"

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