6 de outubro de 2008

"estado crônico: silêncio ensurdecedor"

A noite era fria e de um silêncio tão ensurdecedor que ele decidiu levantar-se da cama e ficar sentado no canto, de costas para ela, deitada do outro lado da cama. Palavras não fariam sentido naquele momento, a luz do abajur acesa projetava sombras perambulantes na parede de frente, o que a entretia enquanto ele rompeu o silêncio: “você ainda acredita nisso tudo?”, mas a resposta foi algo balbuciado, incompreensível para aquela hora que já ia alta. Ele passou a mão pelo rosto e levantou-se. Lavou o rosto de uma forma automática e de lá a encarou. Ela o olhava, mas seus olhos denunciavam que ela não estava ali. Ela estava absorta em seus próprios desejos e com um gesto, pediu para que ele voltasse à cama.
Ele não entendia como ela superava tudo de uma forma tão firme, como era tão forte, como enfrentava seus monstros com os dentes cerrados e uma coragem descomunal. Deitou-se na cama, aproximou-se e beijou-lhe a face. Quando ele se afastou, viu que ela sorria. Não suportou de curiosidade e a perguntou: “como você pode ser tão frágil e ao mesmo tempo tão corajosa e independente?”.
Ela o encarou de um modo tão incisivo, mas com tanta ternura que ele deixou-se invadir e falou baixinho, aproximando-se do ouvido dele: “às vezes, eu choro”. Ele ficou estarrecido com tal afirmação, mas com o rosto dela quase colado ao dele, tão próximo da pele, da alma dela, ele sussurrou em resposta: “me ensina a chorar?”.

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