17 de agosto de 2009

"estado crônico: escassas estrelas"

O cansaço vencia o sono e fazia uma aliança com a insônia, assim, continuava ele vagando solitário pela casa, um apartamento pequeno, mas que tomava proporções homéricas em cada noite como aquela. Decidiu: “vagar não vai adiantar, vou parar quieto na varanda e tomar um pouco de vento no rosto”.
A varanda na sua semi-escuridão tinha um ar acolhedor e a decisão foi sentar-se ao chão. Dali não teria que encarar os carros que cortavam a noite fria, assim como os transeuntes perdidos pela neblina que caía das chaminés das fábricas próximas. Acima de tudo, não queria encarar janelas que mesmo na escuridão, deixavam-no, de modo desafiador, fitar pessoas dormirem, lembrando-lhe que ele próprio não conseguia.
Sentado ao chão, ele só poderia ver o céu e isso talvez não o fizesse tanto mal quanto todo o restante cenário. Sentado ali, passou a fitar as pouquíssimas estrelas que se deixavam ver, pela claridade e poluição excessiva da cidade e principalmente pela morte constante da luz refletida tempos atrás e que só agora chegava, anos depois, até seus olhos. Lembrou que as estrelas morriam. Lembrou de cada uma de suas preocupações que lhe tirava o sono, cada uma delas, martelando em sua cabeça.
Levantou-se dali em busca de sua cama, balbuciando em visível tom de raiva: “fodam-se as estrelas, preciso deitar!”

***

Da série "estado crônico"

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...