11 de setembro de 2009

"estado crônico: angustiada incerteza"


Começou com a incerteza de fazer parte de algo na infância. Tinha um milhão de amigos e outra porção de “namoradas”, mas mal sabia o que fazer e sempre tinha a impressão que suas histórias contadas nunca acabavam, alguém sempre interrompia. Falar nunca foi um dom, as palavras se embaralhavam e acabavam por envergonhá-lo. A escrita também não oferecia salvação, então ficava tudo guardado.

Na adolescência, sempre estava fazendo piadas que alguns amigos riam, às vezes mais pela amizade do que pela qualidade da anedota. Não era de ter muitas namoradas, algumas poucas pretendentes, nada mais. Os números até pareciam uma solução, mas na verdade eles se juntavam às palavras e de mãos dadas riam de cada momento em que o garoto tentava se expressar. Ao tentar ser ouvido, ele sempre acabava falando demais, e assim, falando besteira. Não foi sua fase mais inteligente, na verdade.

Adulto descobriu-se com pouquíssimos amigos, a ponto de se contar em uma mão. Já diferenciava os momentos, as pessoas, mas fazer parte de algo parecia cada vez mais complicado. E quando não se sente parte de nada, também se acaba por não falar nada e ao não falar, tudo se guardava e impressionantemente nada se perdia.
Ao não se encaixar na vida alheia, virou um recluso. Ao guardar suas palavras (que de alguma forma fazia sentido na sua cabeça, mas não na sua boca), descobriu a solidão. Ao notar a frivolidade da vida, tentou encher a casca vazia com “nada”. E então, ao ser supérfluo, descobriu a vida. Era problemático viver com esses lapsos de alegria. Quando se sobe alto demais, até pode-se prever a queda, mas senti-la, aí já é outra história...
Então, ele caiu!

***

Da série "estado crônico"

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