22 de setembro de 2009

"um tratado sobre a solidão"

Parte 01. Sobre estar só?

Apesar de fisicamente incomum nessas grandes cidades conglomeradas de asfalto, concreto e rostos disformes, estar só é ao mesmo tempo, recorrente. No paradoxo desse nosso tempo, dessa nossa vida, a sensação de se estar sozinho, mesmo rodeado de pessoas é algo tão arraigada que se tem a impressão que é impossível subvertê-la.

Estar emocionalmente sozinho é outra questão e aí, passa por outros caminhos, necessariamente. Estar só (ou sentir-se só) acaba por ser um mal necessário – nem sei se tão mal assim.

A solidão é a mola mestre da criatividade, é a fundação base da criação e quando bem utilizada, é a certeza de que se pode estar bem consigo mesmo. A solidão é mais que um mito moderno ou um emaranhado de valores e posses. Ser sozinho, num mundo como o nosso é uma dádiva: esqueça os sonhos complexos ou aqueles construídos pela sociedade de consumo. Ser sozinho é impossível, mas ter a solidão no peito (seja de carne ou de aço) é criar a possibilidade de se proteger (d)o outro.

O outro é o externo, em contraponto ao estrangeiro interno que todos carregamos. O outro é o alheio, o avesso, o incerto. A construção moderna de sociedade implica numa sustentabilidade que talvez a própria sociedade não seja capaz de amparar. Então, o outro tenta se tornar o mesmo, e se não se tiver o cuidado necessário, tentaram fundir-se outro e mesmo num só, na vã tentativa de por fim a solidão. Contudo, algo se salva nessa construção, pois por fim, o amor pleno (não o amor romântico, criado no século XVIII) é a eterna proteção por parte das solidões que fazem parte da relação, pois como já dizia Reiner Rilke:

"Amor: duas solidões protegendo-se uma à outra."


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Da série "um tratado sobre a solidão"

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