21 de agosto de 2012

estado crônico: (tentar) crescer

Acordou, mas não abriu os olhos. Havia dor por trás deles, havia dores no corpo. Havia ressaca sem álcool, fruto de uma noite triste. Decidiu permanecer com os olhos fechados, lembrando da dor que lhe fez chorar até dormir.

Tomou coragem e abriu os olhos e como uma dessas maldades do mundo, a primeira coisa que viu foi o porta-retrato, com a foto daquela garota que sempre lhe sorria pela manhã. Se não ao lado, na cama, do outro, no criado mudo. Era duro amanhecer com mais paixão no coração do que quando foi dormir.

Um banho, um café, compromissos e as dores de cabeça. Metrô lotado, mas pelo menos havia um lugar para se sentar antes de encher. Uma vibração estranha na perna, um susto, uma mensagem de bom dia da garota da foto. Parecia bom sentir-se com mais vida, naqueles lapsos de momentos em que ela faz sentido.

As variações entre querer ser adulto e querer ser jovem na simples mudança da música nos fones de ouvido, mas aí o dia já tinha ido embora e já em casa, chorou de novo por estar só, por não ter a garota da foto ao lado de novo e a certeza de que aquela paixão só aumentava com a distância e a saudade. Tomou os comprimidos, deitou e chorou de novo até dormir olhando pra foto.

Claro que acordaria com dores, claro que tudo se repetiria, exceto por uma paixão latente, mas também era claro que, “querer crescer” não significa “crescer” e mais uma vez, sentiu-se em paz por saber que só faria 17 anos uma vez e que manter uma postura séria nessa idade não deveria nem ser cogitado.

***

da série "estado crônico"

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