5 de setembro de 2008

“Uma visita à solidão de um naufrágio”

Le Scaphandre et le Papillon


Entre o perder-se e o achar-se muito acontece. A tempestade que acomete a embarcação, o furacão que a empurra para longe da rota, que a faz se estraçalhar entre as rochas. Pronto! O mundo se acaba nesse instante e só resta então buscar entender o porvir, pois entre as sombras das negras nuvens que engolem todo o céu e o mar bravio que insiste em fazer desaparecer qualquer um que ousar enfrentá-lo, é que se encontra a paz no meio do desesperador momento.

Entre os destroços de madeira e metal, entre os escombros internos, ruínas de outrora carregadas como lições, encontra-se a laceração de uma vida calcada na certeza que a segurança passa. As velas voaram para longe, sem ao menos oferecerem carona. As âncoras afundam, mas essas são mais solícitas e sempre oferecem carona para o obscuro vazio do fundo do mar. Nada parece certo, nem mesmo a luz do farol se faz presente, no momento em que se clama por ajuda com a face molhada pela tempestade de vento gélido e pelas lágrimas.

Esse é o momento em que o livre arbítrio do náufrago evapora-se perante a grandiosidade da natureza que grita aos ouvidos do infeliz: és só um humano e nada mais! A vontade é dela e ela o levará para onde acredita que ele deveria estar e lá – no meio do nada, do total desconhecido – o humano encontra-se e implora aos seus deuses uma chance de sobreviver àquele gélido e solitário momento.

Dias a fio, a solidão toma de assalto a mente perdida daquele que insiste em viver em meio à tempestade de dias escuros e noites intermináveis e é em uma dessas noites na qual a dor parecia ter vencido, que o distante farol lhe acena esperançosamente e sua luz o preenche de segurança, mais uma vez, pois agora ele pode vencer.

Já em terra, ajoelhado na areia, o solitário náufrago fita mais uma vez o mar raivoso, com suas tempestades e maremotos assustadores. O vento gélido passa mais uma vez ao seu lado e o frio lhe corre pela espinha, mas dessa vez, após o calafrio, vem uma sensação de segurança, alheia ao perigo que já se extinguiu e, isso, é capaz de salvar qualquer um.

Agora, só lhe resta viver...

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