27 de fevereiro de 2009

"estado crônico: solidão anunciada"

A pouca luz do cômodo me traz a sensação de calmaria para a alma em meio aos dias abafados de chuvas que insistem em não cair. Prefiro assim, pouca luz, clima ameno, coração mais calmo, mas ainda angustiado e a certeza de que a solidão do mundo não é minha, afinal, é lá fora que ela brinca de envolver cada pessoa que insiste em querer não estar sozinha.  Ela abraça o mundo e o põe para dormir e sonhar sonhos que nunca serão nada além de sonhos.

Enquanto sozinho, prefiro me fazer calar, para não acordar os outros, mas não só por isso. Calo-me para não me ouvir! Já me ouço bastante, às vezes até demais dentro de minha cabeça, dentro de meu mundo. O mundo não precisa me ouvir, mesmo que seja o meu próprio. Todos querem ser ouvidos, mas ninguém quer ouvir, levando o mundo a uma eterna batalha egocêntrica de falas. Deixo as palavras faladas aos que falam, por isso só escrevo, quando posso, sobre não falar. Palavras faladas são superestimadas, talvez. É difícil, assim, soar especial e ser especial é ser sozinho. É ser personagem principal da própria história quando na verdade, o enredo nem é tão bom assim.

E, cercado nesse mundo por ídolos sacros e profanos, prefiro a pouca luz da madrugada eterna da alma do que fingir ser feliz, correndo pela grama, quando nem o sol se fez presente nesse dia nublado. Nem o sol, tão democrático, quis fazer companhia a essas pessoas e elas mesmo assim se sentem livres, em uma utopia de negação da condição do mundo.

Ser humano é ser tão tolo.


Da série "estado crônico"

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