27 de outubro de 2009

"estado crônico: coração aberto"

Ele era um cara fechado, avesso a demonstrações de carinho por pessoas do mesmo sexo, como todo bom homem nascido durante a ditadura e filho de militar. Contudo, naquele momento ele sentiu que vivia algo especial, e olhando para o próprio filho de menos de 1 ano, falou:
“Filho, desculpa a ausência eterna que sou como pai. Desculpa tudo isso que aconteceu desde que você veio ao mundo, mas foi por não saber o que fazer ou como fazer. Você é minha obra de arte. Você é o melhor livro que já escrevi, minha melhor música, a melhor escultura algum dia feita por mim. Você é parte de mim e não falo de DNA ou coisa do tipo. Você parece extraído de minha infância, parece algo puro como eu fui um dia, diferente desse ser conflitante que sou hoje em dia. Você é uma obra de arte, por mais que não me considere um artista. Você é um milagre, mesmo que eu saiba que não sou nenhum deus. Você é eterno, garoto. Pra sempre!”
Com as lágrimas rolando pelo rosto, ele beijou a face da criança. Logo sua esposa o afastou e então, o caixão foi fechado.
Ele realmente não sabia dizer “adeus”.

***

Da série "estado crônico"

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