15 de maio de 2010

"noite morna"

Era uma noite morna de verão que surgia no horizonte após o calor infernal que havia feito à tarde. Não sentia nada de novo. Da rua movimentada era possível observar, pela janela do terceiro andar um velho garoto. Obviamente ninguém olhava, já que a cidade, o tempo, o trânsito e a correria não permitem isso. Contudo, ele estava lá. O velho garoto, mais velho, definitivamente adulto. E Junto a Le, invisivelmente ao redor, uma sensação estranha. Aquela sensação devia ser mais velha que o tempo, entretanto nunca fora tão forte, tão penetrante.
Se só pudesse usar uma palavra para descrever aquilo tudo seria “vazio”. “Vazio” e com ela a impressão de que nada está no lugar, desde os livros e discos espalhados pelo chão até o fat ode estar sozinho em casa em começo de noite quente de quarta-feira. Sozinho nem tanto, o “vazio” estava lá, fazendo com que ele achasse que talvez nada o preenchesse: nem as músicas preferidas, nem os discos tão amados, nem os filmes que já o fizeram chorar pelo menos uma vez. Ele, nesse momento, sentia o corpo em um ritmo inerte. Era a inércia quem comandava, como se alguém tivesse dado um leve empurrão e sem atrito, ele houvesse seguido mais de dez anos de sua vida assim, acreditando estar no caminho certo e considerando natural qualquer próximo passo de sua vida.
Todas as suas paixões eram tolices, nada mais o emocionava.Ele sabia que do alto de sua janela o mundo servia de espelho. Sua vida se refletia na vida de cada um dos transeuntes que circulavam lá em baixo. Sentia-se como se todos, inclusive ele, fossem bois caminhando para o abate: a inércia empurrava para frente, fazendo todos acreditarem que estavam seguindo (e bem) as suas vidas.
Emoção agora era um luxo com a qual não mais convivia. Preencher o vazio parecia impossível. Atingir uma plenitude era algo inimaginável. Perguntava-se o tempo todo por que raios continuava seguindo em frente, se meu destino parece nunca chegar. Naquele começo de noite quente, olhando pela janela e vendo um mundo caótico mas que ele poderia chamar de lar, naquele fim de tarde tórrida, em pé junto a janela, percebeu a resposta: independente do “vazio”, é graças a ele que continuo a andar... isso deve bastar.

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