6 de agosto de 2012

estado crônico: Amor em tempos de autopunição



Amar não dói, não mata, não mutila.
Amar não arranca pedaço, não transforma o coração em pedaços, não lhe decepa a cabeça (a ponto de perdê-la).
Você que faz tudo isso. Você que escolheu esse caminho. Sim, foi você que se dispôs a amar, a entregar-se de corpo e alma a alguém que (invariavelmente) iria quebrar seu coração, mas ei, não foi ela. A culpa ainda é sua.
Sempre que se ama, machuca-se. Pode ser pouco, quase nada, como uma ligeira mudança de rotina. Pode ser algo violento e brutal, a ponto de lhe fazer desejar nunca ter nascido. Quando se entra nesse jogo, dificilmente se ganha, constantemente se perde.
Você escolheu esse caminho, aceitou o amor. Contudo, ele não durou, minguou e morreu do outro lado, apesar de você ainda acreditar que ele esteja contigo (talvez, mas só contigo, então...). Refaça-se e não se jogue em desejos disfarçados de prazeres que na verdade são drogas que lhe manipulam, alucinam, sangram, arrancam pedaços. O comer demais, beber demais, fumar demais ou o que quer que seja por causa de amor vai lhe empurrar pra dentro de si, para o único lugar em que esse amor ainda mora e vai lhe sugar a vida. O abismo passa a ser sua morada e, nem sempre, sair é tão fácil.
Cada escolha sua, em nome de alguém que lhe amou e que você ainda ama, levar-lhe-á para mais fundo nesse abismo de escuridão. Você morre um pouco mais (do que já se morre a cada dia) por causa desse amor, e aí se vão os pedaços mutilados, a dor da perda, o coração em frangalhos.
Apesar disso tudo, há um elemento na equação que faz com que isso faça sentido: você está só! Sim, só, sem ninguém. Ninguém vai saber qual é a sua dor, ela é só sua e de mais ninguém. Ela é específica e, de certa forma, é ela quem lhe define. Ou melhor, é o modo como a suporta que lhe define. Aqui, surgem duas variáveis: abrace a dor, aceite a perda e levante a cabeça lá do fundo do abismo que você verá o céu; ou combata a dor (com mais dor) e nunca deixe o abismo, e pior, sem olhar pra cima, nem a esperança vai lhe restar.
Como falei, a culpa é sua. Agora engula o choro, aceite a derrota (não é a primeira e nem vai ser a última), junte os cacos e siga em frente que ninguém falou que iria ser fácil crescer...


***

da série "estado crônico"

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