22 de julho de 2008

00:05

Ele esperava o trem da meia-noite sozinho na estação, quando começou a chover. Tentou se proteger da chuva sobre o abrigo da estação, mas o vento forte tornara a chuva incansável em sua ação. O relógio marcava 23:57 e com a chuva a temperatura parecia cair cada vez mais. À medida que a temperatura caía, a distância parecia aumentar. Distância de tudo, de todos, do mundo, do trem que não chegava.

Tentou acender um cigarro que havia no bolso do casaco, mas foi em vão, a chuva já havia chegado lá também. Jogou-o longe e ao erguer a cabeça, fitou os pingos grossos da chuva que caía tendo como fundo a luz amarela do poste do outro lado da rua. “Essa não vai acabar tão cedo” – pensava ele. Ouviu um barulho distante. Barulho de metal, Era, enfim, o trem da meia-noite, atrasado 5 minutos.

“Pelo menos não atrasou tanto” – pensou alto e ao mesmo tempo, espantou-se: com sua voz no quase silêncio noturno e com seu otimismo. Era estranho ele estar buscando o lado bom de algo. Não que fosse um grande pessimista, só se considerava realista demais. E ateu demais. Sentiu-se mais estranho em pensar isso. “Talvez do outro lado, se houver, eu descubra algo sobre deus” e sentiu-se mais estranho ainda por esse otimismo que lhe havia tomado de assalto.

Estava tão absorto em seus pensamentos e pelo barulho do trem que chegava que não ouviu o assaltante lhe pedir a carteira por 3 vezes. O estampido da arma abafado pelo trem que freava e com a porta aberta, o vagão convidava a entrar o corpo que, encharcado pela chuva, jazia no chão sem carteira, sem casaco, sem vida e sem deus.

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