30 de novembro de 2011

"estado crônico: manhã nebulosa"

Já é manhã quando vou dormir e vem sendo assim há tempos. Lá fora uma criança nasce enquanto um velho morre. Alguns choram mas a maioria simplesmente segue suas vidas desinteressantes sem se importar com os que foram. A vida no presente, único tempo aceito, pois o passado morreu a algumas horas antes do sol nascer e o futuro é incerto em meio às nuvens negras que impedem o sol de fazer algo pelo mundo.


O dia nasce enquanto amantes se despedem de uma noite repleta de luxuria, mas com um beijo sem graça, burocrático. A vida não deveria ser tão complicada, mas em meio a isso tudo, eu vou dormir o sono dos que são perturbados o tempo todo pelo barulho, poluição e condições climáticas (calor ou frio) dessa cidade. Todos carregam os seus, mas esse é meu momento, no qual meus sonhos dizem a mim que estão presentes, que devem ser caçados antes que eu morra de velhice, câncer ou em um acidente qualquer. É, pensar em morrer não é recorrente, mas desaparecer, às vezes, faz tanto sentido que as coisas parecem até funcionar melhor.

Nas ruas, crianças já brincam sob a luz desse novo dia, velhos bebem até esquecerem a fragilidade de suas condições, garotas tentam seguir a moda com todo o seu fascínio e acabam iguais, apenas iguais

O sol já nasceu e só agora estou indo dormir, esperando ter o sono dos justos e redimidos, pois enquanto não sou salvo, só me resta entregar-me e sangrar, esperando ser alguém bem melhor do que sou... e o que sou? Apenas uma sombra da noite que paradoxalmente desaparece com os raios de sol que entram pela janela na alvorada da condição humana.


Da série "estado crônico"
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