27 de novembro de 2008

"estado crônico: liberdade tátil"

Muitos acham que liberdade é estar correndo por um campo aberto, sem preocupações, apenas correndo, com o vento batendo nos cabelos e o sol queimando a face.

Não, não é! No momento seguinte você provavelmente vai ter que voltar para o seu trabalho, para suas dores de cabeça, para suas contas, preocupações.

Outros poderiam falar que liberdade é fazer o que quer. Estes também se equivocam: fazer o que quer nos levaria a um caos sem tamanho porque se fizéssemos apenas que queremos, acabaríamos não fazendo nada.

Liberdade, pelo menos para mim, e não sentir grilhões, é respirar com os pulmões abertos não o ar puro das montanhas, mas o poluído das cidades mesmo. Liberdade não é uma utopia que está sempre distante, quando fugimos do cotidiano. Ser livre de verdade é ser livre dentro de nossas próprias rotinas, quando nem estas conseguem nos deter. Claro que trabalhamos, cuidamos dos nossos filhos, pagamos nossas contas, mas ao mesmo tempo, podemos nos colocar acima disso tudo. Minhas contas estão no meu nome, mas não definem o que sou, assim como minhas roupas, meus cd’s ou meus filmes favoritos. O que me define é a capacidade de ser apenas eu, eu e minhas idéias, claro.

No fim das contas, respirar fundo sabendo que não há correntes nos pés, é sentir-se livre. Afinal, tive a chance de eu mesmo escrever minha carta de alforria e, se querem saber, é mais difícil do que parece. Quando alguém te aponta o dedo e diz que você está livre é bem mais simples. Difícil mesmo e olhar para dentro de você e imaginar se o próximo passo é seguro, sensato ou apenas se ele vale a pena. Cada palavra contida naquela carta era como um corte que faziam em meus braços. Ao final dela, rios de sangues de minhas veias abertas fluíam sobre ela e eu me sentia em paz, porque por mais que eu não soubesse pela primeira vez em muito tempo (talvez até pela primeira vez na minha vida) o que farei amanhã, ainda assim eu me sinto bem comigo mesmo, pois na minha opinião, nesse exato momento, eu sou livre e posso até tocar essa liberdade.


Da série "estado crônico"

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