Somos tranqüilos e espertos, livres e astutos para nos levarmos para as colinas verdes, com o céu azul de nuvens brancas, um sol amarelo-vivo e uma casinha torta, mas pronta para receber-nos após corrermos pelos campos e nadarmos no lago azul-piscina. Somos pinturas de um outro tempo, num outro lugar que nos acolhe de uma forma tão calorosa que nos faz esquecer a existência de um “depois”, de um “além”. Somos apenas partes coloridas num livro de uma criança divertida e hiperativa, que não consegue brincar com o mesmo brinquedo por muito tempo, então logo somos deixados de lado, nesse livre mundo-livro aberto.
E é justamente por estar aberto, à revelia dos acontecimentos, que estamos sujeitos a um copo de suco ou de água, que derramado sobre as páginas, faz com que tudo borre, manche e deforme. Seremos criaturas deformadas, com as cores se esvaindo com o tempo e os sonhos se tornando branco e preto, sob um sol amarelo, não mais tão vivo, mas que insiste em não ir embora...
Da série "estado crônico"