4 de dezembro de 2009

"estado crônico: dedicado ao mundo"

No mundo das incertezas, senti vontade de ser mais e ofereci a mão ao próprio mundo. Ele pediu o braço. Sem pensar, entreguei meu corpo (a alma não, porque nem sei mais se ela ainda me pertence). Acabado o favor, voltei para casa e liguei a tv:

Acidente de carro em algum lugar. Uma vítima, um homem.

“Lá se vai a morte dando outra carona, espero que o velório seja animado!”, pensei. Sou mórbido, sem filhos nesse mundo que me exige, sozinho em minhas entranhas, tão mal aparentado quanto mal atendido no desejo de dormir. Cansado todos somos, já que viver cansa, mas dormir, isso sim é uma grande vitória. Fui à cozinha, não havia uma cerveja sequer na geladeira.

“Tenho que tirar essa barba escrota!”, obriguei-me e fui lixar o rosto em nome do mundo que me exige a casca “limpa”. Um segredo: vestir-me assim ou assado não me importa, por mais que pareça, mas não apareça mal vestido ao meu lado, mundo!

Telefone não toca, até atenderia. Só um ombro, um convite. Um ombro que acolhesse meus sentidos tolos, minha sensação de vazio que me acomete duas ou três vezes por ano. Um ombro em nome das lágrimas que nem sobraram depois de tudo que o mundo me exigiu.

No silêncio de uma noite sozinho, ouvi meu peito bater e me assustei: após cada batida, a outra parecia que nunca iria chegar. E se não chegasse? O mundo, esse de incertezas (além da única, a derradeira, a nefasta, a não-vida) me disse "conte comigo" e quando houve a necessidade de um ombro, contentei-me apenas com o travesseiro.

***

Da série "estado crônico"

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