27 de setembro de 2011

estado crônico: vida acidental

Um susto, um acidente tolo e, de repente me vejo deitado. Estranho atravessar a porta deitado em uma maca. Mais estranho ainda é percorrer corredores nessa posição olhando apenas para o teto branco, com luzes claras que ofuscam meus fotofóbicos olhos. Mais uma porta, começa a redefinição de muitos aspectos de minha vida.

Cirurgia, UTI, alta. Recuperação penosa, aliás, com muitas dores e sem dar tempo para juntar os cacos. O mundo segue em frente, os compromissos continuam exigindo presença e as dores lembram o tempo todo que está tudo fora do lugar agora. Aliás, tudo não, pois há esperança de que os ossos e tendões estejam encaixados, suturados e em recuperação. Eles doem absurdamente, em alguns momentos.


Altero rotinas, ocupo pessoas, preocupo outras tantas. Sonho com paz, mas meu corpo está em guerra com esse fio que perpassa os ossos que une. Não quero ser "peso morto", mas tenho consciência de que já não sou tão ativo, de que incomodo ainda mais. Isso me incomoda horrores, fazendo-me perder o sono.
O futuro é mais do que incógnita. Ele até traz certezas veladas, coisas que devem ser riscadas das listas de "prazeres". Afinal, o mundo não precisa de outro jovem senhor de quase 30 que toque instrumentos de corda ou jogue video-game por horas, entre outras coisas...

Enfim, com menos dores, mas não tão "menos" assim e sem gesso, sei que esse é apenas o começo de um caminho difícil e doloroso. É o início de uma reconstrução de coisas que, por muito tempo, quase me definiam. Contudo, sei que preciso controlar a ansiedade, dar um passo por vez, pois só assim terei certeza de que o horizonte é o limite e ainda há muito o que caminhar...

***


Da série "estado crônico"

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...