8 de outubro de 2012

Uma gloriosa manhã

Acordar cedo pode ser um martírio para muitos, principalmente em uma segunda-feira, mas pra ele o ritmo era diferente, já que desde às cinco da manhã  se revirava na cama tentando achar um sono que já havia se perdido.
Quase sem esforço, decidiu que não adiantaria lutar, o sono não viria. Levantou, lavou o rosto, encarou as rugas e pensou ligeiramente assustado "sempre tem uma nova, toda manhã!". O tempo passava e ficava marcado em sua carne, talvez por isso não conseguia dormir direito, afinal de que adiantaria ele "desligar" 8 horas por dia se havia um mundo lá fora que não parava um segundo sequer?
Desistiu do espelho, pegou uma camiseta e saiu. Mercado vazio, fila da padaria cheia, como toda manhã. Outro cumprimento rápido ao porteiro e já em casa, organizava as coisas pra nova semana que despontava.
Depois de tudo organizado, começou a fazer a cafeteira funcionar e minutos depois, abriu o saco com o pão fresco que havia comprado. Por uma dessas artimanhas do subconsciente, no momento que chegou ao seu olfato o cheiro de pão fresco, o do café se apoderou da cozinha. Uma mistura de aromas que o fez sorrir, trazendo memórias de quando a vida era mais simples, sem contas, cobranças, responsabilidades. Era um tempo em que um simples pãozinho com manteiga e um café fresco era devorado às pressas, durante o movimentado café da manhã em que o pai sempre estava de bom humor, fazendo piadas e a mãe, que fingia ser mais séria, não se controlava e acabava rindo da besteira dele e do pai, à mesa. Quando isso acontecia, outra avalanche de risadas, agora apenas pela vitória do sorriso sobre o mau humor da mãe. Aquelas eram manhãs gloriosas que duraram poucos anos, antes da separação dos pais, da mudança para um apartamento menor e da perda do contato com o pai, com quem não falava mais do que uma vez por ano.
Foi tomar um gole de café e pensou "por que me tornei tão mau humorado?", mas quando o café tocou sua língua e percebeu que havia esquecido de por açúcar, praguejou aos 4 ventos e percebeu o quanto uma manhã gloriosa era tão fácil de se perder quanto o aroma do café ao abrir a janela da cozinha...

***

da série "estado crônico"

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