3 de julho de 2008

Sacrifício.

Após tanto tempo acordado, já não se consegue distinguir dia e noite, sono e razão. Acaba se tornando um zumbi sem consciência, um robô programado para manter-se operando ou, se preferir, apenas mais um ser a caminhar pela terra.

Após tanto tempo, encarando nos olhos o mundo em chamas, começa-se a cotejar a certeza de estar nos trilhos com a vergonha de existir aquém do que deveria, abaixo do radar que nos é imposto diariamente. O mundo queima em raiva, mas a sua deve ficar controlada, guardada em você. Esse é um dos seus grandes sacrifícios pela humanidade.

Já não se espera que grandes heróis levantem e se destaquem dos outros mortais. Não, isso já não acontece mais. O que se espera é que você não seja um “bandido” nessa diacrônica sensação de certo/errado. Sempre há dois lados em cada conto - eles dizem -, mas propositadamente esquecem de avisar que existe outra infinidade de caminhos e de perspectivas que vão se perdendo sem sentindo, sem terem sido tocadas, sem a certeza sequer de que foram cogitadas em momentos de pressão. Você deve ser bom, se achar bom e não assumir uma postura errada, mas se assumir, saiba vestir a carapaça da bondade, bater a poeira e sair com sua cínica máscara de que nada fez de errado.

O sacrifício não é ser o anjo ou santo que vai salvar essas almas que queimam pelo mundo, janela a fora. O verdadeiro e real sacrifício que este mundo exige de cada um de nós é manter a calma e não matarmos uns aos outros. Graças a deus, os deuses estão a postos e mandam mensagens aos seus fiéis para queimarem seus vizinhos infiéis, que são fiéis de outros deuses. Os deuses sempre souberam desse sacrifício e todos sempre fizeram questão de ignorá-lo para o nosso próprio mal.

"O Sacrifício de Isaac" de Caravaggio


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