Lutar pelo mundo não é difícil. Acreditar que tudo será melhor um dia também não é algo que chega a tirar o sono. Sonhar com um mundo onde crianças brincam felizes nas ruas e não mendigam (dinheiro, parceiros ou afeto), é algo tão real quanto o vento, afinal você pode sentí-lo. A grande chave disso tudo não é o “ser” quando somos questionados, mas o “continuar sendo” quando ninguém mais está olhando.
Chegamos hoje a uma constatação que é capaz de roubar a inocência de qualquer criança de tempos atrás, já que as de hoje parecem não virem mais com esse item obrigatório de fábrica. Percebemos que não existem super-heróis ao nosso redor. Existem alguns poucos heróis, mas são tão irrisórios em suas façanhas e poderes que o anonimato os engole. Super-herói, com poderes para manter a paz, esses não existem. E ainda acrescento: a grande maioria de nós é formada por vilões!
Com uma dose certa de sociopatia, gasolina ou conhecimentos das leis e de suas brechas, todos acabam se tornando vilões em potencial. Afinal, você acha que o caixa do supermercado olha as notas altas que você entrega a ele contra a luz, em busca de elementos que denunciem uma possível falsificação, por acaso? E o que seriam então as portas giratórias que vez ou outra te impede de adentrar ao banco? Detectores de metal? O que seria isso tudo? Cultura do medo? Talvez, mas vejo algo além o horizonte turvado da humanidade.
Não interessa o que a humanidade quer ser, e sim, como ela está sendo. Nunca se ignorou a possibilidade de um sem número de sujeitos que agem de formas que deixam para trás ética ou estética, que seja, circulando pelas ruas. Podemos não ser todos assassinos em potencial, mas a sociedade construiu um espaço no qual sujeitos alheios a suas convenções podem usufruir de suas vontades e todos nós adoramos o lugar: uma espécie de playground sociopático com roletas russas e contas no exterior.
Há de se salientar que independente do caminho que se escolha (explodir prédios com dinamite, desviar dinheiro da merenda escolar de toda uma cidade ou vender a alma ao diabo), somos todos motivados pelo mundo em que vivemos. Eles nos deram a corda, alguns se enforcaram, outros enforcam seus inimigos. E se há um lugar no qual todos são heróis, é nas nossas próprias vidas, pois até os vilões são heróis nas suas histórias. Eles carregam seus ideais e os levam até o fim, motivados por aquilo que faz com que nos levantemos todo dia para irmos trabalhar: a perspectiva de sucesso! O problema para as autoridades é que a maioria desses vilões já viu a luz, há tempos.
