21 de agosto de 2008

estado crônico: A Noite é um Templo

A noite é um templo cujo teto traz estrelas: umas poucas se movem em um balé para enganar desapercebidos enquanto outras jazem paradas e abismadas por serem apenas estrelas.
A noite é um templo cujos quadros mostram a saga daqueles que nunca desistiram de lutar; mostram a batalha interna dos que viram anjos e seus pecados, e se admiraram em não conseguirem achar a glória, justamente por terem esquecido que não eram deuses.
A noite é um templo cujo altar é uma cama de espinhos e rosas na qual jaz a mais bela das virgens, que espera para ser deflorada pelo mais presunçoso, nocivo e caloroso dos demônios: o sol.
A noite é um templo cuja melodia entoada não se sabe da onde lembram murmúrios de outrora, longínquas épocas nas quais o homem ainda habitava as ruínas e temia a própria noite, que discretamente murmurava, escarnecendo tão simplório ser.

A noite é um templo cuja única oração escutada são os grasnidos noturnos das corujas, o farfalhar da luz das velas e o sibilar dos ventos do norte, pois sobre o corredor principal deste templo chamado noite, caminham impuros que, mesmo em meio a outros, afundam na solidão do caminho e buscam a redenção de serem apenas humanos.

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