2 de novembro de 2011

estado crônico: morte e vida

Atentem a princípio para dois pontos: primeiro, a visão de morte discutida aqui reflete-se basicamente no ocidente, não que esse medo do desconhecido porvir seja exclusividade dessa parte do mundo, mas é onde é mais recorrente; segundo, esse texto não tem a intenção de falar de religiões, mas sim do sentimento, da espiritualidade.


Nascer e morrer é uma constante a todo ser humano. A morte é a única certeza que habita a consciência (e o subconsciente), pois independente do caminho e escolhas, todos sabemos que nosso corpo físico terá um fim. Temer a morte, fugir do assunto e simplesmente não comentá-lo não vai lhe afastar do último suspiro. O mundo tem 4,5 bilhões de anos, nossa expectativa de vida, gira em torno dos 70-80, ou seja somos efêmeros e eventualmente, morremos.
O grande incômodo de ver quem se ama morrer é o apego irracional de que somos sujeitos. Pessoas morrem todos os dias. Elas eram assassinos, bombeiros, padres, crianças, heróis e pessoas comuns. Eram, não são mais nada além de um corpo soterrado, entregue aos vermes, e uma memória que fica aos que permanecem vivos.
É importante entender que a memória, está intimamente relacionada ao ato de lembrar e esquecer. Quando lembramos de algo, significa que esquecemos outras tantas coisas na escolha intencional ou não do ato de lembrar. Por isso, os mortos devem passar pelas duas etapas, a lembrança e o esquecimento: ao serem lembrados, os mortos permanecem vivos como sutis momentos de uma vida toda que se fazem presentes na mente dos que ficam, muitas vezes sem se saber o porquê; e ao serem esquecidos, os mortos descansam, desocupam espaços, deixam o mundo para trás e assim, acabam por dar lugar aos vivos, o que acaba por manter o mundo em equilíbrio.
O ato de lembrar dos mortos (ninguém lembra de seus mortos 24 horas por dia) pode ser entendido como uma homenagem e uma celebração. A dedicação de alguns minutos ou horas aos que se foram, pode ser compreendida como um sincero tributo aos mortos, e ao mesmo tempo, como se a etapa fosse superada. Essa homenagem, também é uma celebração da vida, pois os mortos precisam ser enterrados, no solo e na memória. Afinal, por mais que obras de arte, escritos de ficção, cinema, entre outros nos mostrem o desejo de imortalidade do homem (em uma tentativa de tornar nossa passagem pela Terra menos efêmera), a própria abstração de imortalidade é apenas uma outra forma de solidão.

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da série "estado crônico"

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